24
Odibar João Lampeão e Jairo Simião Dornelas
MODELAGEM CONCEITUAL DO e-SISTAFE: CONFIRMAÇÕES E ASPIRAÇÕES NA SUA IMPLEMENTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Para Costin (2011), o Estado é o conjunto de regras, pessoas e organizações que se
separam da sociedade para organizá-la. O Estado nem sempre existiu, embora alguma forma
de organização da sociedade remonte até comunidades primitivas, mas só passou a ser efetivo
quando o comando da comunidade foi garantido por algum tipo de instância especializada e
hierárquica que separou claramente governantes de governados (COSTIN, 2011).
O papel do Estado também evoluiu com as sociedades. Nos dias de hoje o Estado é
uma sociedade à base territorial, dividido em governantes e governados e que pretende, dentro
do território que lhe é reconhecido, a supremacia sobre todas as demais instituições, tendo sob
seu domínio todas as formas de atividade cujo controle se julgue conveniente (LOPES, 2010).
Nesse sentido, Monteiro (2006) afirma que o Estado moderno em Moçambique tem
características particulares, por ter nascido no exterior e não pode ser dissociado das inúmeras
trajetórias históricas de colonização, de doutrinação dada aos africanos, da pletora de funções
de desenvolvimento desenhadas para o setor público, da cultura de patronagem e clientelismo
introduzidos nas ações e instituições governamentais e da má gestão dos recursos públicos.
Esta situação fragilizou a administração pública, pois de acordo com Abrahamsson e
Anders (1994), os moçambicanos tiveram que assumir papéis administrativos sobre os quais
detinham pouco conhecimento, acabando por aprender as tarefas inerentes, fazendo-as. A fim
de corrigir estes problemas, o aparelho do Estado primou pela formação de gestores públicos,
o que marcou as primeiras reformas administrativas em Moçambique (NYAKADA, 2008;
FORQUILHA, 2010), período que coincidiu com a mudança do regime socialista para o de
economia de mercado, e que provocou a atualização da Constituição da República, a fim de
adaptá-la ao novo contexto do país, bem como, à abertura para influência dos parceiros
internacionais nas políticas públicas (HODGES; TIBANA, 2004).
Com a inserção do país no contexto global, aumentaram as pressões dos parceiros
internacionais para ver-se em Moçambique, segundo Awortwi (2006), a Nova Gestão Pública
(NGP), nascendo assim, em 2001, a Estratégia Global da Reforma do Setor Público (EGRSP),
que avançou sob o desafio de ser “[…] uma mudança da cultura, da atitude e do
comportamento dos funcionários públicos perante o seu trabalho” (CRUZ, 2003, p. 54).
No âmbito da melhoria da administração, enunciou-se a reforma do Sistema de
Administração Financeira do Estado, a conhecida reforma do SISTAFE, abrangendo todo o
ciclo orçamentário, incluindo os subsistemas de orçamento, tesouro público, contabilidade
pública, patrimônio e controle interno (CEDSIF). Esta reforma visava à institucionalização de
Revista de Estudos em Organizações e Controladoria-REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, n. 2, p. 23-38, jul./dez., 2022.