A AGENDA 2030 DA ONU E O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS EM
EGRESSOS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO: QUE PROFISSIONAL
PRETENDEMOS FORMAR?
THE UN 2030 AGENDA AND THE DEVELOPMENT OF COMPETENCES IN
GRADUATES FROM THE ADMINISTRATION COURSE: WHAT DO WE INTEND
TO TRAIN PROFESSIONALS?
ELIZEU BARROSO ALVES
Centro Universitário Internacional (UNINTER)
E-mail: elizeu.balves@hotmail.com
VANESSA ESTELA KOTOVICZ ROLON
Centro Universitário Internacional (UNINTER)
E-mail: vanessa.ro@uninter.com
ALINE PURCOTE
Centro Universitário Internacional (UNINTER)
E-mail: aline.p@uninter.com
RESUMO
Com a intenção de contribuir para o efetivo desenvolvimento de competências atitudinais nos estudantes dos
cursos de Administração, como preconizam as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), juntamente com
o esforço para enfrentar os desafios lançados por meio da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas
(ONU), o objetivo geral deste estudo é conhecer as potencialidades de desenvolvimento das competências
necessárias aos egressos, que culminasse nas atividades de extensão relacionadas aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com isso, apresenta-se como uma IES, localizada na cidade de
Curitiba/PR, propôs a execução de Projetos de Extensão Universitária focados na participação e contribuição dos
alunos para a implementação dos ODS, aproximando a universidade da comunidade e, ao mesmo tempo,
despertando os estudantes para o compromisso de transformação social, bem como desenvolvendo a consciência
inovadora de conhecimentos, atitudes, habilidades, valores e emoção (C H A V E). Como resultado, a IES em
questão, por meio de seu projeto, desenvolveu as características do perfil do egresso em seus estudantes
oportunizando atuar como agentes transformadores da sociedade.
Palavras-Chave: Agenda 2030; Formação do administrador; Curso de administração, Competências.
ABSTRACT
With the intention of contributing to the effective development of attitudinal competences in students of
management courses, as recommended by the new National Curriculum Guidelines (DCNs), together with the
effort to reach the challenges launched through the 2030 Agenda, of the Organization of United Nations (UN),
the general objective of this study is to know the potential for developing the skills necessary for graduates that
culminate in extension activities related to the SDGs (Sustainable Development Goals). With this, we present
how an HEI, located in the city of Curitiba/PR, proposed the execution of University Extension Projects focused
on the participation and contribution of students to the implementation of the SDGs, bringing the university
closer to the community and, at the same time, awakening in the students commitment to social transformation
as well, developing innovative awareness of knowledge, attitudes, skills, values and emotion (KEY). As a result,
the HEI in question, through its project, developed the characteristics of the profile of the graduates in their
students by being a transforming agent in society.
Keywords: Agenda 2030; Administrator training; Management course, Skills.
Revista de Estudos em Organizações e Controladoria - REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, n. 1, p. 49-66, jan./jun., 2022.
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1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como base os estudos e pesquisas que visam contribuir para o efetivo
desenvolvimento das competências apontadas pelas novas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) do curso de Administração, juntamente com o esforço nacional de enfrentar os
desafios lançados durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Geral das
Nações Unidas, da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015. Nesse evento, 193
Estados-membros aprovaram esse documento por meio da Agenda 2030 para o
desenvolvimento sustentável, segundo os cadernos ODS desenvolvidos pelo Instituo de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2019 (SILVA, 2019).
Essa agenda, cuja implementação foi proposta para a partir de 2016, é um plano de
ação que parte do reconhecimento de que a erradicação da pobreza, em todas as suas formas e
dimensões, é o maior desafio global ao desenvolvimento sustentável. Nela, estabeleceram-se
dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas cujo alcance
requererá uma parceria global com o engajamento de governos, sociedade civil, setor privado,
academia, mídia e ONU (SILVA, 2019).
Com base na agenda 2030 e atendendo às DCNs para os cursos de Administração,
homologadas por meio da Resolução 5, de 14 de outubro de 2021, a coordenação do curso
de Administração objeto deste estudo, em conjunto com o Núcleo Docente Estruturante
(NDE), propuseram a execução de Projetos de Extensão Universitária focados na participação
e contribuição dos alunos para a implementação dos ODS, objetivando aproximar a
universidade da comunidade e, ao mesmo tempo, despertar os estudantes para o compromisso
de transformação social, bem como, desenvolver a consciência inovadora de atitudes,
capacidades, habilidades, valores e emoção (CHAVE).
A pergunta norteadora deste estudo foi: quais as potencialidades de
desenvolvimento das competências necessárias aos egressos do curso de Administração
por meio de atividades relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?
O desafio de desenvolver projetos com base nos ODS foi lançado em uma IES da
Cidade de Curitiba/PR, dentro das disciplinas de Project Based Learning (PBL). Estas
compõem o currículo do curso e tais projetos vêm sendo implementados desde o início de
2019, sob o guarda-chuva dos Projetos de Extensão para o Desenvolvimento Sustentável
(PEDS), contribuindo com a difusão da agenda por meio da integração dos graduandos em
Administração na questão social. Isso vem possibilitando ações em nível de gestão capazes de
promover o bem à comunidade na qual esses estudantes estão inseridos como, por exemplo,
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sua atuação no desenvolvimento de projetos que atendem ao Objetivo 4: assegurar a educação
inclusiva e equitativa de qualidade, bem como, promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos.
A meta 4.7 visa garantir que todos os estudantes adquiram conhecimentos e
habilidades necessários para promover o desenvolvimento sustentável, dentre outros, por
meio da educação para o desenvolvimento sustentável e de estilos de vida sustentáveis,
direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência,
cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o
desenvolvimento sustentável até 2030. Essas demandas relacionam-se ao artigo das DCNs
(Resolução 5, de 14/10/2021), que preconiza a formação do administrador a ser
aprofundada neste trabalho.
Ao longo de 2019, a IES do estudo desenvolveu 16 projetos que atenderam a 12 ODS.
Eles foram realizados em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), escolas, lares de
idosos, hospitais, organizações não governamentais (ONGs), empresas, feiras, parques, ilhas
do litoral paranaense e municípios da região metropolitana de Curitiba. Os projetos atingiram
diretamente mais de 600 pessoas (crianças, adultos e idosos), em 11 instituições; houve
também, pessoas impactadas por meios das redes sociais por meio de conteúdos
desenvolvidos pelos discentes. Além do desenvolvimento dos projetos, realizaram-se palestras
para divulgar e propor a reflexão sobre os ODS, assim como eventos para apresentar os
projetos realizados, com a participação do público interno e de convidados externos.
Percebeu-se por meio da relação entre teoria e prática o alinhamento entre o currículo
do curso de Administração aqui analisado e as Diretrizes Curriculares Nacionais, que atendem
à Legislação para a Educação Profissional. Isso proporciona situações de inserção e de
comprometimento do acadêmico com a sociedade e, na atuação do administrador, o
desenvolvimento de competências e habilidades específicas para sua formação humana e
profissional. Esses elementos demonstram e comprovam o compromisso do Curso com a
oferta de uma sólida formação, que permite ao acadêmico enfrentar os desafios das
transformações sociais, do mercado de trabalho e das condições do exercício profissional.
As DCNs originais para o curso de Administração foram homologadas em 2005. Com
a sua respectiva atualização em 2021, o curso de Administração da IES pesquisada inovou ao
contextualizar a realidade social à legislação vigente, visando formar profissionais
qualificados, cujo elemento norteador de sua prática cotidiana seja uma atitude investigativa e
inovadora, bem como uma consciência crítico-reflexiva, problematizadora, ética e
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humanizadora acerca da cidadania e a defesa dos direitos humanos, demonstrando os impactos
sociais que produz nos planos local, regional, nacional e global, quando aplicável.
2 COMPETÊNCIAS
Quando se trata de competência, entende-se que ela se trata de uma tríade resultante do
‘saber o que é’, ou o conhecimento; o saber fazer’, que são as habilidades, ao lado do
‘querer fazer’ que se denomina atitude; os três associam-se aos valores, no sentido de ser
flexível, ter escuta ativa e ser resiliente e, ao mesmo tempo, ser capaz de lidar com desafios,
gerenciando as emoções e utilizando as frustrações de forma equilibrada e produtiva. Assim,
competências são conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e emoção (CHAVE) em ação.
Para Bitencourt (2005), citando Bruce (1996), as competências são o resultado da
aprendizagem; não são inatas aos indivíduos, como defendem os idealistas, mas sim
desenvolvidas ao longo da experimentação dos sujeitos. E mesmo os que consideram que elas
possam ser inatas hão de concordar que a aprendizagem aprimora as experiências. O
desenvolvimento de competências está, portanto, coligado com a aprendizagem e, apesar de
serem individuais, nascem em uma dialética indivíduo-grupo.
A competência pode também ser compreendida como a capacidade de uso e aplicação
de procedimentos práticos exigidos pelo contexto da ação (BRANDÃO, 2009; FREZATTI et
al., 2016). Umas das competências que se espera do profissional de administração é a de
‘planejar’ e, para tal, o sujeito deve ter conhecimento de estratégia, ter habilidade, verbi
gratia, de analisar cenários e predisposição para acertar e errar. A competência é “um saber
agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar e transferir conhecimentos,
recursos e habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo” (FLEURY; FLEURY, 2001, p. 30).
2.1 As competências esperadas/exigidas do administrador
Segundo o Conselho Federal de Administração (CFA), em pesquisa realizada no ano
de 2016, quase 80% das competências exigidas de um administrador estão concentradas em
atuar com visão sistêmica, que aparece seguida de liderança e efetividade de equipes e
articulação entre as áreas da organização; em processo de crescimento de importância, surge
gerenciar conflitos. também as competências que o poder público espera de um
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administrador, manifestadas no artigo da Resolução 5, de 14 de outubro de 2021, a qual
revisitou e atualizou as DCNs do Curso de Graduação em Administração.
Em relação ao desenvolvimento de competências e habilidades do graduando em
Administração, espera-se:
Art. O Curso de Graduação em Administração deve proporcionar aos seus
egressos, ao longo da formação, além dos conhecimentos, ao menos as seguintes
competências gerais:
I - integrar conhecimentos fundamentais ao Administrador - Para além de apenas
deter conhecimentos fundamentais, o egresso deve ser capaz de integrá-los para criar
ou aprimorar de forma inovadora os modelos de negócios, de operacionais e
organizacionais, para que sejam sustentáveis nas dimensões sociais, ambientais,
econômicas e culturais. Entre os conhecimentos fundamentais incluem-se os de
Economia, Finanças, Contabilidade, Marketing, Operações e Cadeia de
Suprimentos, Comportamento Humano e Organizacional, Ciências Sociais e
Humanas e outros que sirvam às especificidades do curso;
II - abordar problemas e oportunidades de forma sistêmica - Compreender o
ambiente, modelar os processos com base em cenários, analisando a inter-relação
entre as partes e os impactos ao longo do tempo. Analisar problemas e
oportunidades sob diferentes dimensões (humana, social, política, ambiental, legal,
ética, econômico-financeira);
III - analisar e resolver problemas - Formular problemas e/ou oportunidades,
utilizando empatia com os usuários das soluções, elaborar hipóteses, analisar
evidências disponíveis, diagnosticar causas prováveis e elaborar recomendações de
soluções e suas métricas de sucesso passíveis de testes;
IV - aplicar técnicas analíticas e quantitativas na análise de problemas e
oportunidades - Julgar a qualidade da informação, diferenciando informações
confiáveis de não confiáveis, e de que forma ela pode ser usada como balizadora na
tomada de decisão. Identificar, sumarizar, analisar e interpretar informações
qualitativas e/ou quantitativas necessárias para o atingimento de um objetivo inicial.
Julgar a relevância de cada informação disponível, diferenciando meras associações
de relações causais. Comunicar suas conclusões a partir da construção e análise de
gráficos e de medidas descritivas. Identificar os contextos em que técnicas de
inferência estatística possam ser utilizadas e, por meio delas, julgar até que ponto os
resultados obtidos em uma amostra podem ser extrapolados para uma população;
V - ter prontidão tecnológica e pensamento computacional - Compreender o
potencial das tecnologias e aplicá-las na resolução de problemas e aproveitamento
de oportunidades. Formular problemas e suas soluções, de forma que as soluções
possam ser efetivamente realizadas por um agente de processamento de
informações, envolvendo as etapas de decomposição dos problemas, identificação
de padrões, abstração e elaboração de sequência de passos para a resolução;
VI - gerenciar recursos - Estabelecer objetivos e metas, planejar e priorizar ações,
controlar o desempenho, alocar responsabilidades, mobilizar as pessoas para o
resultado;
VII - ter relacionamento interpessoal - Usar de empatia e outros elementos que
favoreçam a construção de relacionamentos colaborativos, que facilitem o trabalho
em time e a efetiva gestão de conflitos;
VIII - comunicar-se de forma eficaz - Compartilhar ideias e conceitos de forma
efetiva e apropriada à audiência e à situação, usando argumentação suportada por
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evidências e dados, deixando claro quando suportada apenas por indícios, com a
preocupação ética de não usar dados para levar a interpretações equivocadas;
IX - aprender de forma autônoma - Ser capaz de adquirir novos conhecimentos,
desenvolver habilidades e aplicá-las em contextos novos, sem a mediação de
professores, tornando-se autônomo no desenvolvimento de novas competências ao
longo de sua vida profissional.
§ Além das competências gerais, devem ser agregadas as competências
específicas em acordo com a especificidade do curso.
§ As competências descritas no caput, assim como as competências específicas,
devem ser compreendidas como tendo seu desenvolvimento ao longo do curso, não
pela simples exposição a uma disciplina ou componente curricular, requerendo que o
estudante pratique a capacidade em ambientes similares ao da futura realidade de
atuação e receba feedback construtivo em relação ao seu desempenho.
§ Os conhecimentos fundamentais de que trata o item I do caput, não devem ser
necessariamente tratados como disciplinas do Curso, podendo ser trabalhados de
forma diferente, como atividades, serviços, práticas supervisionadas, áreas de
estudos, propostas e justificadas no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) (BRASIL,
2021).
Das competências que se espera serem desenvolvidas nos administradores, destacam-
se estar pronto para responder às diversas situações e dominar diferentes áreas de gestão, bem
como ter uma visão sistêmica de concepção e uso dos recursos.
Ao visualizar o que preconizam MEC (2021), CBO (2010) e CFA (2021), identifica-se
um alinhamento entre eles e às dimensões formativas apontadas por Costa, Lima e Andrade
(2008, tradução nossa), sendo elas:
i) educação básica e instrumental que compreende as disciplinas iniciais necessárias
à visão do curso, como matemática, economia, filosofia e sociologia;
ii) educação profissional, a qual apresenta os conhecimentos básicos de atividade
gerencial nas organizações, de acordo com várias disciplinas clássicas, como teoria geral da
administração, marketing, finanças, logística, recursos humanos e produção;
iii) disciplinas eletivas e complementares, sendo essas ou não orientadas para
atividades específicas e técnicas, proporcionando flexibilidade para as instituições de ensino e
seus projetos pedagógicos;
iv) período supervisionado de treinamento, em que os alunos vivenciam situações de
prática gerencial, os chamados estágios ou trabalhos de conclusão de curso e, por fim,
v) um bloco de atividades complementares, criado pela lei de 2004, que permite uma
educação fora do ambiente regular da instituição de ensino.
As IES que ofertam o curso de Administração no Brasil se baseiam nessas
competências para a elaboração de seu PPC, que se materializa na grade curricular do curso,
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ou seja, as disciplinas que isoladas ou de forma interdisciplinar devem desenvolver tais
capacidades no estudante. “O formato das disciplinas, seu conteúdo e a sua carga horária
mantêm-se praticamente os mesmos entre todas as escolas, pouco importando o contexto no
qual estão inseridos” (BOAVENTURA et al., 2018, p. 24).
As DCNs para os Cursos de Graduação em Administração reforçam como
competências fundamentais o desempenho profissional eficaz e condizente no mercado de
trabalho e a questão da visão sistêmica, aliada a bons processos de tomada de decisões e a um
gerenciamento flexível e contextualizado com a realidade de atuação do administrador. Tais
competências da DCN são verificadas pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(ENADE), que ocorre a cada três anos.
3 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)
No que se refere aos ODS, tratam-se de uma agenda direcionada aos países em
desenvolvimento e que estabelecem objetivos e metas para melhorar a qualidade de vida das
pessoas. Em 2015, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) elaborou
os ODS com metas até 2030, a partir da reunião de chefes de Estado e de Governo na sede da
ONU, em Nova York.
A Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade.
Ela também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos que a
erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é
o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável
(ONU, 2020). Os objetivos estão organizados na seguinte ordem conforme Figura 1.
Figura 1 – ODS propostas pela ONU
Fonte: ONU (2021).
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A sintetização dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostas
pela ONU, consta no Quadro 1, a seguir.
Quadro 1 – Desdobramento dos ODS
Objetivo Desdobramento
Erradicação da Pobreza acabar com a pobreza em todas as suas formas e lugares
Fome zero e agricultura sustentável acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável
Saúde e bem-estar assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos,
em todas as idade
Educação de qualidade assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade,
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos
Igualdade de gênero alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e
meninas
Água potável e saneamento garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento
para todos
Energia acessível e limpa garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável
para todos
Trabalho decente e crescimento
econômico
promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para
todos
Indústria, inovação e infraestrutura construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
Redução das desigualdades reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
Cidades e Comunidades sustentáveis assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Consumo e Produção responsáveis assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Ação contra a mudança global do clima tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus
impactos
Vida na água conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos
recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
Vida Terrestre proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter e
reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
Paz, Justiça e Instituições eficazes promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir
instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
Parcerias e meios de implementação Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável.
Fonte: elaborado a partir de ONU (2021).
Assim, os esforços para o cumprimento dessa agenda cabem a toda sociedade, mas
principalmente às IES, como formadoras de profissionais com habilidades e competências
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técnicas e humanas, desenvolver características atitudinais de compromisso ético e valores
que vão ao encontro dos valores da sociedade que clama por ética, responsabilidade social e
ambiental, visto que serão os administradores que, em breve, tomarão decisões estratégicas
nas organizações, independentemente do porte ou do setor nas quais estão inseridas.
4 PERCURSO METODOLÓGICO
O objetivo do trabalho foi analisar se aos egressos do curso de Administração
desenvolveram ou não as competências necessárias ao seu exercício profissional por meio de
atividades relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Para se alcançar os
objetivos traçados, empreendeu-se uma pesquisa com fins descritivos e exploratórios, de
caráter qualitativo, visando explorar as potencialidades que tais atividades têm para o
desenvolvimento dessas competências.
A pesquisa aqui apresentada foi de natureza qualitativa, caracterizando-se como
descritiva, e almejando entender às potencialidades de desenvolvimento das competências
necessárias aos egressos do curso de Administração por meio de atividades relacionadas aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Foi realizada em uma IES na cidade de
Curitiba/PR. Segundo Braga (2007), a pesquisa descritiva tem o objetivo de identificar as
características de um determinado problema ou questão e descrever o comportamento dos
fatos e fenômenos. Para tal descrição, utilizou-se como estratégia de investigação empírica o
estudo de caso.
Yin (2005) afirma que, em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida
quando se colocam questões do tipo “como” e “porquê” inseridos em algum contexto de vida
real. Assim, configura-se como uma estratégia de pesquisa pertinente quando o pesquisador
visa buscar entendimento de fenômenos sociais complexos. Ademais, entende-se que o estudo
de caso é uma estratégia que se aplica a estudos descritivos permitindo análises qualitativas
do material empírico da pesquisa.
O público escolhido foram os estudantes do curso de graduação presencial em
Administração de Empresas de uma IES particular da cidade de Curitiba/PR. A escolha desta
organização como caso deu-se pela sua importância social na constituição da sociedade, uma
vez que a educação é um direito assegurado na Constituição Brasileira e as IES prestam
serviços de utilidade pública, sendo vistas como instituições sociais.
A escolha pelo levantamento ocorreu devido à intenção de descoberta, cuja base são
pressupostos conceituais que partem de uma visão de perspectiva macro. Com isso, tal
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estratégia de investigação permite fazer inferências acerca de tendências de uma população
(CRESWELL, 2007).
Para responder à pergunta norteadora e alcançar o objetivo desta pesquisa, partiu-se de
pressupostos definidos pelos pesquisadores:
Pressuposto 0 não ocorreu o desenvolvimento das competências necessárias
aos egressos do curso de Administração por meio de atividades relacionadas
aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável;
Pressuposto 1 ocorreu o desenvolvimento das competências necessárias aos
egressos do curso de Administração por meio de atividades relacionadas aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
No presente estudo, a coleta de dados aconteceu de duas formas: entrevistas e a
observação participante. Elaboramos um instrumento de pesquisa que fosse capaz alinhar as
perguntas ao objetivo desse estudo, exemplo consta na Figura 2, no capítulo a seguir.
Quanto a realização da observação participante, o professor-orientador foi a campo
com os alunos, e teve acesso ao contexto que está sendo pesquisado, foi demandado o uso de
um caderno de anotações, no qual as notas de campo foram registradas de forma sistemática
(contendo descritivos amparados por marcações de data, hora, circunstâncias ocorrentes e
atores envolvidos). Deste modo, intencionou-se, com essa investigação, contribuir para o
entendimento da relação entre uma nova perspectiva de aprendizagem e o desenvolvimento de
competência nos sujeitos.
Realizou-se o levantamento no período de 18/02/2019 a 30/08/2019, no qual 110
alunos passaram a planejar e elaborar a atividade em conjunto com o professor da disciplina
de PBL. Com o objetivo de alinhar: (i) ODS, (ii) competência esperada do aluno conforme
DCN e (iii) trabalho de campo, aplicando o PBL nas localidades escolhidas. O Quadro 2
apresenta os projetos desenvolvidos.
Quadro 2 – Projetos de extensão - 2019
Quantidade de Projetos 16
Total de ODS 12
Total de Instituições 11
Quantidade de Pessoas Atingidas Mais de 600
Quantidade de Pessoas Atingidas por Meio das Redes Sociais Mais de 6.000
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
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Nessa atividade, o professor da disciplina propõe uma reflexão aos alunos em relação
aos ODS, após os alunos escolhem os objetivos que querem atuar desenvolvendo projetos que
contribuam para o alcance dos objetivos escolhidos. Desta forma, o projeto ocorre
considerando as seguintes etapas:
1) Preparação e desenvolvimento do plano de aulas e projeto a ser repassado para os
alunos pelo Professor orientador.
2) Apresentação da agenda 2030 e dos ODS para os alunos, por meio de palestras,
aulas expositivas e reflexões.
3) Reflexão, escolha do ODS a ser trabalhado e formulação do projeto a ser
desenvolvido com orientação do Professor.
4) Desenvolvimento do projeto pelos alunos com o apoio do professor-orientador.
5) Apresentação do projeto desenvolvido em sala ou evento aberto para comunidade
interna e externa.
Os alunos com o professor-orientador, refletem a respeito do(s) ODS escolhido(s),
buscam uma instituição para desenvolvimento do projeto, iniciam o planejamento das ações,
detalham os recursos necessários, dividem as tarefas entre os participantes do grupo e
elaboram um cronograma das atividades a serem desenvolvidas. O projeto se destaca pelo
envolvimento dos alunos e professores que passam a preocupar-se e contribuir com a difusão
e implementação dos ODS, desafiando-os a conhecer novas realidades, saindo da teoria e
colocando em prática conceitos e conteúdos estudados no curso.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O projeto contou com a participação e a contribuição dos graduandos na
implementação dos ODS com o objetivo de aproximar a universidade e a comunidade e, ao
mesmo tempo, despertar o compromisso de transformação social e desenvolver a consciência
inovadora em relação a atitudes, capacidades e habilidades focadas nos objetivos de
desenvolvimento sustentável. Ao ser implantado na disciplina de Project Based Learning
(PBL), o projeto integrou os alunos nas questões social e de promoção do bem à comunidade.
Após analisar os 17 objetivos, um grupo de alunos escolheu o item 10, que visa à
redução das desigualdades tendo como meta 10.2, até 2030, empoderar e promover a inclusão
social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça,
etnia, origem, religião, condição econômica ou outra. Com base nesse objetivo, os estudantes
desenvolveram o Projeto Redução das Desigualdades, que visa conscientizar e causar impacto
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em crianças ao destacar a gravidade da desigualdade entre as pessoas e a importância da
inclusão social.
Para desenvolver esse projeto, primeiramente, os graduandos coletaram dados e, após
isso, atuaram numa escola estadual conscientizando as crianças quanto à importância da
inclusão social. Para a coleta de dados, realizaram-se entrevistas em um parque da região de
Curitiba, onde os estudantes de Administração abordaram algumas pessoas, conversaram
sobre o tema, gravaram áudios e vídeos, além de aplicar um questionário relacionado ao tema.
Nesse sentido, observou-se que, no planejamento, os discentes começam a
desenvolver as suas competências, como a de “analisar e resolver problemas - formular
problemas e/ou oportunidades, utilizando empatia com os usuários das soluções, elaborar
hipóteses, analisar evidências disponíveis, diagnosticar causas prováveis e elaborar
recomendações de soluções e suas métricas de sucesso passíveis de testes” (MEC, 2021), que
é o item III do artigo 3º, da Resolução nº 5, de 14/10/2021.
Outrossim, pode-se apontar que fora atendido o que preconiza as DCNs no que se
referem as competências que devem ser compreendidas como tendo seu desenvolvimento ao
longo do curso, o que foi possível visto a continuidade dos projetos, bem como, possibilitou
que os estudantes praticassem sua formação de gestor, ou seja, com a orientação docente os
acadêmicos foram capazes de estabelecer objetivos e metas, planejar e priorizar ações,
controlar o desempenho, alocar responsabilidades, mobilizar as pessoas para o resultado, em
ambientes similares ao da futura realidade de atuação
Dentre as entrevistas realizadas, algumas chamaram a atenção. Uma delas foi a
entrevista com um pastor e líder de escoteiros, na qual ele falou sobre o fato de as pessoas
terem a necessidade de ser amadas, independentemente das suas limitações, sejam elas
diferenças físicas, culturais ou sociais. Assim, os alunos trabalharam a competência de “julgar
a qualidade da informação, diferenciando informações confiáveis de não confiáveis, e de que
forma ela pode ser usada como balizadora na tomada de decisão” (MEC, 2021).
O professor, em sua observação participante, pondera que as entrevistas contribuíram
para os estudantes refletirem e vivenciarem situações reais demostrando como o tema é
tratado e trabalhado na sociedade em geral, desafiando-os a conhecer novas realidades. Essa
vivência contribuiu para reflexão e ajudou os alunos a mudar a percepção sobre o tema,
contribuindo no planejamento das demais etapas realizadas durante a ação. Durante as
entrevistas os alunos se demonstraram confiantes a debater sobre o ODS escolhido
contribuindo para o alcance desse objetivo.
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Outra entrevista foi realizada com uma professora aposentada, que trabalhou por
muitos anos com crianças que tinham diversos tipos de limitações. Ela constantemente
trabalhava em sala de aula visando à inclusão social, o que englobava desde a forma de
abordagem até mesmo o modo de conversar, criando estratégias para fazer com que as
crianças se sentissem incluídas na sociedade.
Ao analisar o conteúdo dessas entrevistas, identificou-se que uma das graduandas
(‘X’) reconheceu-se nessa realidade, inclusive argumentando que a educação superior tem
sido um verdadeiro caminho para o seu progresso social e que entendeu, como futura
administradora, que as empresas devem atuar diretamente para também levar em conta as
mazelas sociais.
Coletaram-se, também, dados por meio de pequenos formulários (Figura 2) entregues
para as pessoas que passavam pelo parque, observando-se que existe uma grande variação no
modo de pensar das pessoas. Algumas possuem interesse no assunto, mas também aqueles
que simplesmente não se importam se os outros são excluídos socialmente, por qualquer
motivo que seja, nem com o impacto negativo que isso gera na sociedade.
Figura 2 – Exemplo de questionário aplicado no parque
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
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Figura 3 – Acadêmicos aplicando o questionário no parque
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Com o intuito de conscientizar as crianças quanto ao modo de agir, viver e entender
que somos todos iguais, realizou-se uma ação específica numa escola estadual da região
metropolitana de Curitiba, com a utilização de uma apresentação teatral referenciando os
dados coletados no parque de forma dinâmica e objetiva. O desafio era apresentar uma peça
teatral interativa para crianças de idade entre 10 e 12 anos, produzindo reflexão acerca de
formas de discriminação e/ou exclusão. A ação ocorreu no dia 26 de abril 2019 e contou com
a participação de 47 alunos de diferentes turmas da referida escola.
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Figura 4 – Alunos apresentando o teatro na escola
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Na ocasião, a apresentação teatral foi composta por três estudantes participantes do
projeto; um deles fez o papel de um personagem quieto e os outros dois eram personagens
considerados “os mais populares”. Estes fizeram brincadeiras de mau gosto, acarretando a
exclusão social do primeiro. Durante a peça, os graduandos observaram-se as reações das
crianças e, após, realizou-se um debate com elas para identificar as impressões e opinião em
relação à situação representada.
Como resultado imediato, uma das alunas da escola estadual comoveu-se e contou que
havia vivenciado situações de exclusão social. Ela se emocionou ao relatar sua situação
pessoal e achou interessante a apresentação, dando ênfase em sua fala e como tais reflexões
agregarão em sua vida, a quanto foi divertida e dinâmica, mas, ao mesmo tempo, intuitiva e
educativa.
Acho que foi bem divertido, me identifiquei bastante com a peça que eles
apresentaram. Eu me emocionei porque é uma sensação muito boa saber que agora
estou num lugar que eu me encaixo. Quando eu vim para eu encontrei novos
amigos.
(...)
Eu sempre avisava a professora. E quando a professora não resolvia, ia para a
diretoria. Acho que o melhor é conversar com a pessoa e entender o problema dela,
o porquê ela está fazendo aquilo com os outros.
(ALUNA DA ESCOLA)
Este foi o relato de uma das alunas da IES que participou da ação:
Foi bem significativo, principalmente o final. Foi algo que mexeu comigo, quando
ela subiu e se expôs daquela forma. As crianças precisam fazer isso mais vezes, ter a
coragem de se abrir e contar o que estão passando para que isso não chegue a
conhecimento só quando já é tarde demais.
(...)
As crianças não têm noção de que rir quando alguém cai é um tipo de bullying; é
constrangedor. É preciso trazer esses assuntos mais vezes para as crianças”, reforça.
(ALUNA DA IES)
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Em virtude dos fatos mencionados, o grupo de graduandos em Administração
conseguiu entender o quão importante é a inclusão social. Com a pesquisa no parque, as
entrevistas e a ação realizada com as crianças da escola, ficou clara a necessidade de
promover e “empoderar” para a inclusão social, tornando a sociedade um lugar para todos. No
olhar de formação das competências do administrador, conforme as DCNs e alinhando-as com
os ODS, verifica-se que o desenvolvimento do indivíduo está coligado com a aprendizagem e
que essas competências se desenvolvem a partir de uma dialética indivíduo-grupo.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além de considerar as competências e habilidades descritas nas DCNs, ao implantar o
projeto PEDS no curso de Administração da IES pesquisada, o NDE, a Coordenação, em
conjunto com o Colegiado do curso, analisaram as características atitudinais pretendidas
descritas no perfil do egresso. O enforque foi na transformação do comportamento dos
graduandos para que se formem profissionais aptos a construir uma carreira pautada na ética e
no compromisso com o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva, que respeite a
diversidade, reduza as desigualdades sociais e preserve o meio ambiente.
Tendo como objetivo analisar se ocorreu o desenvolvimento das competências
necessárias aos egressos do curso de administração por meio de atividades relacionadas aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), considerou-se, diante dos projetos
realizados, que foi possível o desenvolvimento de competências, principalmente as
denominadas soft skills, abordadas na Resolução nº 5, de 14/10/2021.
Após analisar os 17 objetivos da agenda 2030, um grupo de estudantes de
Administração da IES pesquisada escolheu o objetivo 10, que visa à redução das
desigualdades tendo como meta: “até 2030, empoderar e promover a inclusão social,
econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia,
origem, religião, condição econômica ou outra”.
Com base nesse objetivo, os discentes desenvolveram o Projeto Redução das
Desigualdades em um parque e em uma escola estadual, visando causar impacto e
conscientizar as pessoas da gravidade da desigualdade e da importância da inclusão social.
Uma das alunas do colégio estadual onde realizou-se o projeto, ao referir-se à temática
abordada, relatou a respeito de uma experiência sua com a exclusão:
Eu sempre avisava a professora. E quando a professora não resolvia, ia para a
diretoria. Acho que o melhor é conversar com a pessoa e entender o problema dela,
o porquê ela está fazendo aquilo com os outros (ALUNA DA ESCOLA).
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Portanto, a IES estudada, por meio desse projeto, trabalhou as características do perfil
do egresso em seus estudantes quando lhes proporcionou exercer o papel de agentes
transformadores na sociedade, sendo possível constatar o desenvolvimento do:
I. Comportamento individual: A necessidade de se posicionar de forma ética nas
relações entre pessoas, organizações e sociedade, com um forte sentimento de
responsabilidade.
II. Comportamento profissional: A necessidade de estimular o espírito criativo,
empreendedor e inovador, sempre buscando soluções para o desenvolvimento da sociedade.
As DCNs são diretrizes norteadoras para a formação do administrador, porém, cabe às
IES ir além destas e apresentar a realidade aos seus estudantes, conscientizá-los de que ao
tomar decisões, estas impactarão a vida de pessoas e que é necessário refletir sobre o mundo
que se pretende deixar para as futuras gerações.
Ainda buscando responder à pergunta desta pesquisa, do ponto de vista teórico,
percebeu-se a clara importância de se pesquisar e desenvolver teorias acerca de competências
relacionadas às relações interpessoais dos administradores, as quais são consideradas
essenciais. Esta pesquisa foi somente um recorte do que pode ser feito por meio de projetos
práticos e pretende contribuir para a formação de administradores cidadãos.
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